30 de mar. de 2012

Manuscritos da Bíblia

Não existem os escritos originais da palavra de Deus ou os autógrafos, mas felizmente quando estes ainda existiam, homens piedosos sentiram a necessidade de os copiar. Estas cópias feitas antes da invenção da imprensa chamam-se manuscritos.

Os manuscritos estão divididos em dois grandes grupos: os do Velho Testamento, escritos em hebraico, e os do Novo Testamento, em grego.

I. Manuscritos Hebraicos.

Há poucos manuscritos hebraicos antigos, talvez uma das razões para esta exigüidade seja o costume judaico de inutilizar todos os rolos que, pelo uso, começassem a se estragar. Havia em todas as sinagogas uma caixa ou compartimento, chamado “genizah” para onde levavam as folhas ou exemplares inutilizados. Alguns eram queimados, enquanto outros eram colocados nas sepulturas, dentro do caixão, com as figuras mais representativas da comunidade.
Não se encontra uniformidade nos livros quanto aos manuscritos hebraicos mais antigos, as datas, por vezes, divergem muito de autor para autor, mas talvez os mais velhos sejam estes:

1º) O Papiro de Nash.

Existem quatro fragmentos, que reunidos totalizam 24 linhas dos 10 mandamentos e os versículos 4 e 5 do capítulo 6 de Deuteronômio. Foi descoberto no Egito em 1920 e datado por Albright entre 150 e 11 a.C. Outros autores datam do ano 100 a.C.

2º) Um manuscrito do Pentateuco adquirido pelo Museu Britânico no fim do século XIX.

Este manuscrito não tem data, porém, Ginsburg considerava este códice, como sendo da primeira metade do século IX; outros estudiosos, baseados em peculiaridades paleográficas crêem que pertença ao X século da nossa era.

3º) O de Leningrado.

Segundo a Enciclopedia de la Bíblia, vol. II, página 375, este é o códice completo de todo o Velho Testamento mais antigo que existe.

4º) Códice de Alepo.

Sua antigüidade tem dado motivo a uma interminável discussão entre os estudiosos, defendendo alguns que seja do ano 910 A.D. O códice continha originalmente os 24 livros que compunham o Antigo Testamento Hebraico. Cada página consta de três colunas, com exceção de Jó, Salmos e outros trechos poéticos escritos em apenas duas colunas.

Devido à superstição de seus proprietários este manuscrito apenas pode ser visto por rabinos, também não permitindo que alguém o fotografe, mas apesar desta restrição, foi fotografado uma vez no século XIX e duas em 1957.

II. Manuscritos Gregos.

Providencialmente, muitas cópias dos livros do Novo Testamento foram feitas por cristãos devotos e destas umas 5.000 que contêm todo o Novo Testamento ou alguma parte, se acham arquivados em museus e bibliotecas ao redor do mundo.

O mais antigo manuscrito de qualquer parte do Novo Testamento é um pequeno fragmento que existe na biblioteca de John Rylands, em Manchester, Inglaterra. Contém o texto de S. João 18:31-33, 37 e 38. Foi escrito no Egito, na primeira metade do II século, menos de 50 anos depois da morte de João.

Classificação dos Manuscritos

Para melhor compreender o estudo dos manuscritos é necessário conhecer como são classificados. À medida que novos manuscritos iam sendo descobertos os estudiosos sentiram a necessidade de classificá-los, visando facilitar seu estudo e referências posteriores.

A primeira classificação foi feita por Johann Jacob Wettstein nos Prolegômenos da edição crítica do Novo Testamento Grego, publicado em Amsterdã em 1751-1752. Ele classificou os manuscritos unciais conhecidos pelas letras do alfabeto latino e os minúsculos pelos números arábicos 1, 2, 3, 4, 5, etc. A foi o Alexandrino, B o Vaticano, C o Efraimita. No seu tempo alistou ao todo entre unciais e minúsculos 125. Os papiros eram ainda desconhecidos nesta época.

Wettstein classificou os manuscritos do Novo Testamento em quatro grupos: 1) Evangelhos, 2) Atos e Epístolas Gerais, 3) Cartas Paulinas, 4) Apocalipse. Este método não foi aceito porque trazia confusão (desde que, a mesma letra ou número indicava diferentes manuscritos em diferentes livros), por isso foi colocado de lado.

Tischendorf ao publicar seu Novo Testamento Grego, de 1869-1872, ampliou a classificação de Wettstein, usando também as letras do alfabeto grego, porque as latinas já não eram suficientes para os unciais. Dado o grande valor que ele atribuiu ao Sinaítico, colocou-o no início da lista classificando-o com a primeira letra do alfabeto hebraico – alef .

Classificação de Gregory

Em 1900, Gaspar René Gregory, no texto crítico do Novo Testamento, ponderou que se alguém não quisesse introduzir letra hebraica na classificação podia usar a letra S para o Sinaítico. Sendo que as letras latinas e gregas já não eram suficientes para os manuscritos unciais, Gregory sugeriu que fossem designados por números arábicos, precedidos de um zero, para não se confundirem com os minúsculos. Manteve contudo as letras latinas e gregas, e ainda a primeira do alfabeto hebraico que identificavam os primeiros 45 manuscritos unciais. Sinaítico era alef ou 01, Alexandrino A ou 02, Vaticano B ou 03 e assim sucessivamente. Os papiros foram classificados com a letra P seguida de um índice. P1, P2, P3, etc.

Esta classificação continua sendo mundialmente aceita, desde que a de Von Soden por ser muito difícil é impraticável.

Classificação de Von Soden

Seu método é muito mais complicado. Distribuiu os manuscritos em três grupos, conforme o seu conteúdo, atribuindo-lhe as letras gregas: d, e, a .A primeira letra ou delta era a inicial da palavra “diatheke”, compreendendo os manuscritos que contivessem todo o Novo Testamento; a segunda letra a inicial do Evangelho, abrangendo os manuscritos apenas dos Evangelhos; sob a terceira, apóstolos, os que se referiam aos demais livros do Novo Testamento.

Sem dúvida alguma um sistema mais perfeito e completo que os anteriores, mas evidentemente muito mais complicado, por isso apesar de seus ingentes esforços este processo foi abandonado. Seus discípulos prosseguiram, durante algum tempo, classificando os manuscritos com estas mesmas letras seguidas de números.

Números de Manuscritos

Gregory, em seu tempo, classificou 165 unciais e 14 papiros.

Em 1957, Kurt Aland apresentou a seguinte lista: Unciais 241, minúsculos 2.533, papiros 68 e lecionários 1838, perfazendo um total de 4.680.

Em 1969, o professor de Crítica Textual na Andrews, Walter Specht nos apresentou os seguintes números: unciais 250, minúsculos 2.646, papiros 76, lecionários 1997, totalizando 4.969.

A) Manuscritos Unciais.

1) CÓDICE SINAÍTICO, ALEF ou 01

A primazia na lista dos manuscritos caba a um códice da Bíblia Grega do IV século. Contém a Bíblia inteira, escrita com muito esmero, arrumada em quatro colunas por página. Hoje, partes do Velho Testamento têm perecido, mas o Novo Testamento está completo. Seu tipo de texto é idêntico ao do Códice Vaticano, isto é, pertence ao grupo Alexandrino. Escrito em fino pergaminho, pois é de pele de antílope, em grandes páginas, de 46 centímetros de altura por 36 de largura. Um estudo minucioso deste códice levou os eruditos a afirmarem que ele foi copiado por quatro copistas distintos.

A história do descobrimento deste manuscrito é fascinante, por isso merece ser aqui contada. Tischendorf, renomado professor da Universidade de Leipzig, empreendeu uma extensiva viagem pelas terras bíblicas, à procura de manuscritos. Enquanto visitava o mosteiro de Santa Catarina no monte Sinai, em 1844, encontrou no corredor do convento uma cesta cheia de papéis, destinados a acender o fogo. Examinando as folhas percebeu, que eram parte de uma cópia da Septuaginta. Quando disse às pessoas responsáveis que tão precioso material não devia ter aquela finalidade, foi informado de que duas cestas já tinham sido queimadas. Diante de seu interesse foi-lhe permitido levar 43 destas folhas. Estas páginas se encontram atualmente na Biblioteca Real em Leipzig. Eram partes de I Crônicas, Jeremias, Neemias e Ester.

Em 1853, Tischendorf cheio de perseverança visitou o mosteiro novamente, com a esperança de adquirir outras porções do mesmo manuscrito, mas o grande entusiasmo manifestado no primeiro encontro, fez com que os frades suspeitassem que os manuscritos fossem muito valiosos; portanto, não permitiram que ele levasse mais.

No ano de 1859, mais uma vez, regressa ao mosteiro do monte Sinai, que se encontrava sob proteção do Czar da Rússia. Um dia antes da sua partida, presenteou o chefe do convento com uma cópia da edição da Septuaginta, publicada por ele em Leipzig. Imediatamente o administrador do mosteiro observou que também possuía uma cópia da Septuaginta, retirando de uma gaveta de sua cela um manuscrito envolto em um pano vermelho. Diante dos olhos de Tischendorf encontrava-se o tesouro que ele ansiosamente procurava. Escondendo seus sentimentos, pediu permissão para examiná-lo melhor ao anoitecer. Ao ser-lhe esta concedida, levou-o para seu quarto e durante toda a noite, avidamente, examinou e estudou o manuscrito. Em seu diário, escreveu, diante daquela maravilha seria um sacrilégio dormir. Ele logo descobriu que o documento continha muito mais do que havia imaginado, pois ali estava quase todo o Velho Testamento, o Novo Testamento completo e ainda a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas. Na manhã seguinte, tentou comprar o códice, mas sem sucesso. Pediu então licença para levá-lo ao Egito, mas esta também não lhe foi dada.

Posteriormente no Cairo, onde os monges do Sinai tinham também um pequeno mosteiro, Tischendorf se encontrou com o mesmo despenseiro do mosteiro de Santa Catarina, e tanto insistiu que o manuscrito foi levado ao Cairo para que ele o copiasse, porém, davam-lhe apenas um caderno de oito folhas cada vez. Dois alemães que estavam no Cairo e sabiam algum grego copiavam o manuscrito, enquanto Tischendorf revisava cuidadosamente o trabalho feito. Em dois meses eles copiaram 110.000 linhas do texto.

Não conseguindo comprá-lo convenceu os monges a presenteá-lo ao Czar, que em reconhecimento a esta oferta doou 9.000 rublos ao mosteiro. Em 1862 o Czar custeou as despesas de publicação do texto impresso em Leipzig, em quatro volumes.

Este extraordinário tesouro permaneceu na Biblioteca de São Petersburgo até 1933, quando o governo russo desinteressado na Bíblia o vendeu ao Museu Britânico por 100.000 libras esterlinas, arrecadadas por subscrição pública e contribuição do governo (mais ou menos 500.000 dólares).

Esta história desperta no visitante de Londres um incontido desejo de visitar o Museu Britânico para contemplar o precioso manuscrito, famoso tanto pelo valor intrínseco como extrínseco.

2) CÓDICE ALEXANDRINO, A ou 02

Oferecido ao Rei Carlos I da Inglaterra por Cirilo Lucaris, Patriarca de Constantinopla, em 1627. Permaneceu na Biblioteca Real até 1757, e hoje se encontra ao lado do Sinaítico em um destacado lugar no Departamento de Manuscritos do Museu Britânico. Contém o Velho Testamento (em grego), exceto algumas mutilações e muito do Novo Testamento.

De acordo com o grande erudito em manuscritos bíblicos – Kenyon, ele pertence ao V século. Há no início deste códice uma nota assinada por Atanásio III, patriarca de Alexandria, que morreu em 1308, na qual se declara haver o manuscrito sido presenteado à cela patriarcal daquela cidade. Tudo indica que teve como origem Alexandria.

A qualidade do texto preservado no códice Alexandrino varia em diferentes partes do Novo Testamento. Nos Evangelhos é o mais velho exemplo do tipo Bizantino de texto. No restante do Novo Testamento é representativo do texto Alexandrino.

3) CÓDICE VATICANO, B ou 03

Juntamente com o Sinaítico está entre os mais valiosos manuscritos da Bíblia. Como seu nome indica, encontra-se na Grande Biblioteca do Vaticano, onde foi colocado pelo papa Nicolau V (1447-1455). Foi copiado cerca da metade do IV século. Contém o Velho Testamento, com algumas omissões e o Novo Testamento até Hebreus 9:14, possuindo hoje 759 folhas. Está escrito em três colunas em cada página.

Durante muito tempo o Vaticano não permitiu que este manuscrito fosse estudado e publicado, até que em 1857 apareceu uma edição in folio, em 1872 uma fac-similada, e outra fotografada em 1889. Graças ao espírito persistente de Tischendorf, ele conseguiu em 1866 uma licença para o examinar durante 42 horas, conseguindo nesse tempo copiar 20 páginas inteiras.

Kenyon no livro Our Bible and the Ancient Manuscripts, pág. 140, afirma: “Os críticos em geral crêem ser B a evidência principal para a mais antiga forma de texto do Novo Testamento”. Apresenta todas as evidências de ter tido Alexandria como o seu berço.

Eruditos crêem que os manuscritos Vaticano e Sinaítico estavam originalmente entre as 50 cópias das Escrituras que Constantino pediu a Eusébio para que fossem usadas nas igrejas naquele tempo.

Um de seus aspectos que precisa ser salientado é este: como o códice sinaítico, omita a parte de Marcos 16:9-20. Convém ter em mente que grande número dos mais capazes nomes da Crítica Textual sustentam que este final de Marcos não foi escrito por ele.

O Comentário Bíblico Adventista, vol. V, página 658, nos diz:

“Importantes evidências textuais podem ser citadas para a omissão total dos versos 9-20 de Marcos 16, concluindo assim o Evangelho de Marcos com o verso 8. Os comentaristas defendem a omissão dos versos 9-20 apontando numerosas diferenças no estilo, idiotismos e palavras diferentes entre estes versos e as precedentes partes de Marcos.”

Estes versos são conhecidos pela Crítica Textual como “a mais longa terminação de Marcos.”

4) CÓDICE EFRAIMITA REESCRITA, C ou 04

É um palimpsesto do V século, chamado de Efraimita, porque diversas obras de Efraim da Síria foram copiadas sobre o texto original no século doze. Felizmente, sendo a tinta do último copista de menos duração que a do primeiro, Tischendorf, por meio de reagentes químicos e graças a um cuidadoso trabalho decifrou quase a totalidade do texto bíblico.

Contém fragmentos do Velho Testamento e quase todo o Novo. Seu texto é do tipo Bizantino. Hoje se encontra na Biblioteca Nacional de Paris. Em seu lugar continha toda a Bíblia, mas hoje, somente permanecem 209 folhas do códice original e destas 145 são do Novo Testamento, contendo porções de cada livro, com exceção de II Tessalonicenses e II João.

Cada página apresenta apenas uma coluna, mostrando-nos a a tendência dos copistas de alterarem a maneira de usar cada folha. O Sinaítico está em quatro colunas, o Vaticano em três, o Alexandrino em duas e este em uma somente.

5) CÓDICE DE BEZA, D ou 05

Diferente de todos os outros manuscritos em muitos aspectos, pois é notável pelos seus desvios do texto comum e pelas muitas adições. Assim em Lucas 6, este manuscrito tem o verso 5 depois do verso 10 e entre os versos 4 e 6 contém o seguinte relato: “No mesmo dia, vendo Jesus um homem trabalhando no sábado, disse-lhe: Se efetivamente sabes o que estás fazendo, és feliz, mas se não sabes, és maldito e um transgressor da Lei”. Em Lucas 23:53 há uma adicional informação de que José de Arimatéia, após colocar o corpo de Jesus no túmulo, pôs perante ele uma grande pedra que 20 homens dificilmente poderiam movê-la. Bruce, em “The Acts of the Apostles”, salienta o aspecto interessante e lógico de algumas de suas adições, como no capítulo 8 verso 24, onde afirma que Simão, o mágico, derramou copiosas lágrimas, outra é o horário das aulas de Paulo em Éfeso, no capítulo 19 verso 9.

Os exemplos citados são suficientes para indicar a característica livre do chamado texto Ocidental, do qual o Códice Beza é o principal representante.

Este manuscrito foi descoberto em um mosteiro em Lião e oferecido à Universidade de Cambridge, em 1851, por Teodoro Beza.

Escrito provavelmente no início do VI século, é ainda diferente dos demais até agora estudados por ser bilingüe, representando em colunas paralelas o texto grego e latino. Embora no início contivesse toda a Bíblia, hoje limita-se aos Evangelhos, Atos e fragmentos das Epístolas.

Os Evangelhos estão colocados na ordem do grupo Ocidental: primeiro os Apóstolos, depois os companheiros dos Apóstolos (Mateus, João, Lucas e Marcos).

6) CÓDICE CLAROMONTANO, D1, D2 ou 06

Descoberto em Clermont, cidade da França, donde lhe vem o nome. Foi adquirido entre 1565 e 1582 por Teodoro Beza. Está em grego e latim, como o Códice Beza, aliás, não passa de um suplemento do D. Deve-se notar que Hebreus se encontra na lista de Epístolas Paulinas.

As palavras são escritas continuamente, não apresentando também nenhuma pontuação. Encontra-se hoje na Biblioteca Nacional de Paris.

Uma edição do manuscrito foi publicada por Tischendorf em 1852.

Como o Códice Beza, o tipo de texto deste manuscrito é essencialmente Ocidental.

7) CÓDICE WASHINGTON, W ou 032

Entre os mais importantes manuscritos unciais que foram descobertos durante o século XX está um códice dos quatro Evangelhos. Foi adquirido pelo Sr. Charles L. Freer, em 1906, de um árabe, e agora está no museu em Washington.

Foi copiado no início do V século e à semelhança do Códice Beza contém os Evangelhos na chamada ordem Ocidental.

Seu texto é curiosamente variado, pois nele se encontra o Bizantino, Ocidental, Alexandrino e Cesareense. Na opinião de Henry A. Sanders estas diferenças de texto podem ser explicadas pela teoria que afirma ter sido o códice feito de fragmentos de diferentes manuscritos dos Evangelhos, destruídos pelo imperador Diocleciano.

Uma das principais características deste manuscrito encontra-se no final do livro de Marcos, numa referência posterior ao aparecimento de Cristo ressurreto aos discípulos. Ela vem citada no livro O Novo Testamento do Dr. Benedito P. Bittencourt, página 113, com a ressalva de que evidentemente é apócrifa. “E eles desculparam-se, dizendo: Esta época sem lei e de descrença está sob o poder de Satanás, que não permite que a verdade e o poder de Deus prevaleçam sobre as coisas impuras dos espíritos. Por isso revela a tua justiça agora, assim falaram eles a Cristo. E Cristo replicou-lhes: O limite de tempo do poder de Satanás está cumprido, mas outras coisas terríveis se aproximam. Pelos que pecaram Eu fui entregue à morte, para que retornem à verdade e não pequem mais; para que possam herdar a glória espiritual e incorruptível dos justos que está no céu.”

Qual teria sido a origem deste acréscimo? É sempre difícil qualquer pesquisa neste assunto, mas o autor do livro de onde o extraímos afirma que São Jerônimo o encontrou em certas cópias, especialmente nos códices gregos. Uma afirmação pode ser feita, sem receio de contestação, inegavelmente, ele contém verdades preciosas.

Os sete manuscritos maiúsculos aqui citados nos fornecem os diversos tipos de texto existentes no século VI, e é em torno deles que o debate se tem centralizado durante os últimos 100 anos. Todos os textos críticos se têm baseado neles.

Os próximos manuscritos maiúsculos são menos significativos para a Crítica Textual, porém, um ou outro merece rápida referência porque podem auxiliá-la em algum ponto controvertido, ou ainda são dignos de nota por certas peculiaridades como o Códice 047 é o Purpúreo Petropolitano.

8) CÓDICE KORIDETE ou Y TETA.

É o nome dado a um manuscrito dos Evangelhos que foi descoberto em Koridete, perto do Mar Cáspio, encontrando-se agora em Tifilis, a capital da República Socialista da Geórgia.

É o mais importante representante do tipo cesareense de texto, de acordo com Streeter e Lake.

9) CÓDICE BASILEIENSE.

Foi escrito no oitavo século e apresenta o tipo Bizantino de texto.

Como se deduz do próprio nome, encontra-se na Biblioteca de Basiléia desde 1559. Contém os quatro Evangelhos, apenas com algumas mutilações em Lucas. Embora estudado por Mill, Wettstein, Tischendorf e Tregelles, nunca foi publicado.

10) CÓDICE 047.

Este manuscrito merece rápida referência por causa da disposição de sua escrita que está arrumada em cada página na forma de uma cruz.

É uma cópia dos quatro Evangelhos feita mais ou menos no décimo século. Hoje se encontra na Biblioteca da Universidade de Princeton.

11) CÓDICE LAUDIANO.

Manuscrito Bilingüe, trazendo o texto em grego e latim, hoje depositado na Biblioteca Bodleiriana em Oxford. Os estudiosos o datam do final do século quinto ou início do sexto. É relativamente pequeno, pois contém apenas o livro de Atos com a omissão de 26:20 a 28:26. É o primeiro manuscrito conhecido, que menciona a confissão de fé que Filipe exigiu do eunuco antes de o batizar, conforme Atos 8:37.

O Novo Testamento grego omite este verso, chamando a nossa atenção para o Aparato Critico, onde são mencionados os melhores manuscritos que não o apresentam.

O Comentário Bíblico Adventista tem sobre esta passagem a seguinte afirmação: “Evidências Textuais favorecem a omissão deste verso”.

12) CÓDICE RÉGIO.

Manuscrito do oitavo século, constituído dos quatro Evangelhos, pertencentes à Biblioteca Nacional de Paris.

Seu texto tem sido classificado pelos críticos como idêntico aos do Sinaítico e Vaticano, embora com erros graves atribuídos à incompetência do escriba.

Sua mais notável característica é apresentar duas terminações para o Evangelho de Marcos, a longa, que é mais comum, compreendendo os versos 9 a 20 do capítulo 16; e a breve, que aparece em um pequeno número de manuscrito, como nos mostra Bruce no compêndio The Text of the New Testament, página 54.

13) CÓDICE PURPÚREO PETROPOLITANO

Encontra-se entre as mais ricos e mais belos dos códices bíblicos existentes, por ser escrito em letras de prata ou ouro sobre pergaminho purpúreo.

Continha originalmente os quatro Evangelhos em 462 folhas, contando hoje com apenas 227, repartidas por 8 bibliotecas e museus de diversas partes do mundo.

Seu tipo de texto tem sido classificado como Bizantino, e sua data, no sexto século.

14) CÓDICE PORFIRIANO, TAMBÉM CONHECIDO COMO p2.

É um palimpsesto do nono século que hoje se encontra em Leningrado.

Este manuscrito é digno de nota por ser um dos poucos que contém o livro de Apocalipse, mas além deste lá se encontram as Cartas Paulinas, as Canas Universais e o Livro de Atos.

O texto bíblico, deste palimpsesto foi apagado para receber, em 1301, um Comentário de Eutálio sobre Atos e as Cartas Paulinas.

Foi editado por Tischendorf de 1865 a 1869.

MANUSCRITOS MINÚSCULOS

Quando os manuscritos começaram a ser mais procurados, os copistas empregaram uma forma de escrita menor e mais fácil. Alguns querem ver diferença entre os termos minúsculo e cursivo. Minúsculo usa-se para o tipo de letra de forma menor e cursivo para a junção das letras no ato de escrever. Na prática as duas palavras são empregadas indistintamente.

Quais as vantagens da letra minúscula sobre a maiúscula?

Dr. Benedito P. Bittencourt no livro O Novo Testamento, páginas 115 e 116, declara:

“As vantagens desta escrita com minúsculas são grandes. Menores que as unciais, as minúsculas ocupavam menos espaço, e, por conseguinte, menos pergaminho, tornando o livro mais econômico e mais fácil de ser usado. A rapidez com que a escrita cursiva era realizada aumentava a produção e a barateava, colocando, deste modo, os livros ao alcance de pessoas de recursos limitados. Assim a escrita em minúsculas foi importante fator na disseminação da cultura geral e da Bíblia em particular.”

Os manuscritos minúsculos apresentam quantidade muito mais considerável que os unciais, desde que os unciais sendo mais antigos estiveram mais sujeitos à destruição.

Os eruditos têm classificado muitos deles em famílias, quando apresentam sensível semelhança no tipo de texto. Os mais importantes manuscritos minúsculos do Novo Testamento são os seguintes:

1) FAMÍLIA 1

Fazem parte desta família, de acordo com Lake, os seguintes manuscritos: 1, 118, 131 e 209, que estão classificados entre os séculos XII e XV. A análise do seu texto indica que ele concorda com o Koridete, ou o tipo corrente em Cesaréia no 3º e 4º séculos.

2) FAMÍLIA 13

William Hugh Farrar, professor de latim na Universidade de Dublin, descobriu em 1868 que os manuscritos 13, 69, 124 e 346 apresentavam muita identidade de texto. Eles foram copiados do século XI ao XV. Hoje estão incluídos neste grupo uma dúzia de manuscritos.

Uma das curiosidades deste grupo é que eles têm o relato da mulher adúltera não em João capítulo 8, mas após Lucas 21:38.

Como a Família 1 seu texto é do tipo cesareense.

3) MANUSCRITO 33

Em virtude da delicadeza de suas letras e beleza de suas páginas, foi cognominado “o rei dos cursivos”. Contém todo o Novo Testamento, com exceção do livro do Apocalipse.

Encontra-se na Biblioteca Nacional de Paris.

É um esmerado representante do tipo Alexandrino de texto.

4) MANUSCRITO 61

Data do século XVI e apresenta todo o Novo Testamento. Tem mais importância histórica do que intrínseca, por ser o primeiro manuscrito grego descoberto que faz referência às Três Testemunhas Celestiais em I João 5:7-8.

Tudo indica que foi produzido com o propósito de prejudicar a Erasmo, como vem explicado, na parte que trata da publicação do Novo Testamento grego deste grande humanista.

Hoje se encontra na Biblioteca de Dublin.

5) MANUSCRITO 700

Pertence ao século XI ou XII e se encontra no Museu Britânico. A principal curiosidade deste manuscrito é a seguinte: No Pai Nosso relatado por Lucas (11:2), em lugar de “venha o teu reino”, aparece “venha o teu Espírito Santo sobre nós e nos purifique”. Este também era o texto da Oração do Senhor conhecido por Márcion.

6) MANUSCRITO 16

Com este número foi designado o manuscrito que contém uma cópia dos quatro Evangelhos. Pertence ao século XVI e hoje pode ser visto na Biblioteca Nacional de Paris.

Seu texto foi escrito com tinta de quatro cores diferentes conforme o assunto. As palavras de Jesus, sua genealogia e as palavras dos anjos estão em vermelho; as palavras citadas do Velho Testamento, bem como as dos discípulos, de Zacarias, Maria, Simeão e João Batista estão em azul; as palavras dos fariseus, do centurião, Judas e Satanás estão em preto. As palavras dos pastores também estão em preto, mas pode ter sido um engano.

7) MANUSCRITO 1739

Nele se encontram as Epístolas Paulinas e o Livro de Atos.

É importante porque contém muitas notas marginais tiradas dos escritos de Irineu, Clemente, Orígenes, Eusébio e Basílio. A História Eclesiástica nos informa que Basílio viveu de 329 a 379, portanto o ancestral deste manuscrito foi copiado no final do século IV. A cópia que conhecemos é do século X e descoberta em 1879 no Monte Atos.

PAPIROS

A descoberta dos papiros bíblicos é bem mais recente do que a dos pergaminhos.

Em 1751, quando Wettstein classificou os manuscritos bíblicos não havia ainda nenhum papiro.

Foi a expedição de Napoleão ao Egito em 1798, da qual faziam parte muitos cientistas, que abriu uma nova era nas escavações e investigações papirológicas.
Durante os anos de 1877 e 1878 houve, no Cairo, grande exposição e conseqüente venda de avultado número de papiros. As compras foram feitas especialmente pela Alemanha, Inglaterra e França. Nestes países papirólogos se dedicaram a classificá-los e estudá-los.

O inglês Flinders Petrie, despertado por estes estudos, empreendeu em 1883, uma série de escavações sistemáticas em diferentes pontos do Egito, resultando deste seu esforço documentos valiosos tanto para a literatura secular como para o texto bíblico. Dois outros notáveis arqueólogos, Grenfell e Hunt (1895-l896), seguindo a trilha iniciada por Flinders Petrie descobriram em Oxirrinco preciosidades papirológicas seculares e bíblicas. Não apenas no Egito estas escavações se processaram, mas em outras partes do mundo, como em Pompéia, na Palestina e Dura-Europos, o mesmo trabalho foi feito.

Este estudo adquiriu tal importância que deu origem a uma nova ciência – a Papirologia (ciência que se ocupa com o estudo dos textos e escritos em papiro).
Não existe uma lista completa de papiros do Velho Testamento. Uma seleção destes papiros pode ser feita, baseada numa obra publicada em Berlim em 1918 por W. Schubart.

PAPIROS DO NOVO TESTAMENTO

Embora saibamos que muitos livros do Novo Testamento foram copiados em papiros, até mais ou menos o ano 300 da nossa era, em 1930 apenas 44 fragmentos de papiros eram conhecidos. Em 1947 Metzger publicou uma lista de 54 papiros existentes naquele ano. Em 1963, graças ao auxílio de outros papirólogos, pôde Metzger adiantar que os papiros bíblicos são em número de 76. Entre estes se encontram alguns que trazem apenas pequenos fragmentos da Bíblia, enquanto outros são bastante extensos.

Os menores são os seguintes: o P12 com apenas um verso, Heb. 1:1; o P7 trazendo dois versos: Lucas 4:1-2; o P18 relatando o que encontra em Apoc. 1:4-7. O que traz maior porção de todo o texto bíblico é o papiro de número 35.
Apenas não se encontram nos papiros algumas partes das Epístolas Paulinas e as quatro Epístolas Gerais menores.

Os papiros são úteis à Crítica Textual porque alguns são anteriores aos mais antigos pergaminhos e por serem fiéis testemunhas do tipo de texto que existia no Egito.

A lista completa dos 76 papiros, com a data da escrita, o tipo de texto, o conteúdo textual e o lugar onde hoje se encontram é apresentada em vários livros, sendo dois deles: The Text of The New Testament, de Bruce Metzger, páginas 247 a 256 e Enciclopedia de la Bíblia”, vol. V, páginas 867 a 870.

Se Tischendorf foi cognominado o grande papirólogo do século passado, inegavelmente, em nosso século, nenhum nome se projetou mais do que o do Sr. Frederico Kenyon.

Seria interessante a informação de que os papiros se apresentam quase todos em códices e não em rolos. Até 1930 pouco valor foi dado aos papiros para o estudo do texto do Novo Testamento, por serem eles apenas pequenos fragmentos, mas nesse ano, quando alguns nativos egípcios descobriram papiros escritos em grego com partes maiores do Novo Testamento, real interesse foi despertado para o seu estudo.

Estes manuscritos foram adquiridos pelo Sr. Chester Beatty, pela Universidade de Michigan e por particulares da Áustria, Itália e de outros lugares.

Os mais conhecidos, por serem os mais valiosos para a Crítica Textual são os da coleção comprada por Chester Beatty.

Estes papiros bíblicos, que se tornaram conhecidos do público em 1931, consistem de porções de 11 códices, três dos quais continham a maioria dos escritos neotestamentários.

Os três mais importantes da coleção de Chester Beatty são os seguintes:

P 45. Originalmente o códice consistia de mais ou menos 220 folhas, contendo os quatro Evangelhos e Atos. Hoje são preservadas trinta folhas incompletas contendo partes destes cinco livros.

O manuscrito, por ser da primeira metade do terceiro século, é muito útil para mostrar-nos o texto daquele tempo.

P 46. É o mais famoso dos manuscritos das Escrituras em papiro. Consiste de 86 folhas das Epístolas Paulinas, com pequenos estragos. Originalmente eram 104 folhas. As Epístolas de Paulo estão arrumadas na ordem decrescente de tamanho, sendo digno de nota que entre elas se encontra a de Hebreus.

Este papiro vem provar, que no início do terceiro século a Epístola aos Hebreus era aceita como inspirada e escrita pelo Apóstolo Paulo. A Epístola aos Hebreus aparece neste códice entre as cartas de Paulo, refutando a pretensão de certos teólogos modernistas de que ela não foi escrita por Paulo.

Outro aspecto a ser notado neste papiro é que a doxologia de Romanos está no fim do capítulo quinze.

É mais velho do que o papiro 45, pois tem sido datado mais ou menos do ano 200.

P 47. Era primitivamente constituído de trinta e duas folhas, das quais hoje nos restam apenas dez de Apocalipse, e é atribuído à segunda metade do terceiro século.

É importantíssimo, porque há poucos manuscritos primitivos contendo o livro de Apocalipse.

A coleção de Chester Beatty encontra-se no Museu de Dublin.

O papiro 52 comprado por Grenfell em 1920, no Egito, para a Biblioteca de John Rylands de Manchester, na Inglaterra. Contém apenas uns poucos versos do Evangelho de João (18:31-33, 37-38). Este fragmento, segundo alguns, é a mais antiga cópia conhecida de uma porção do Novo Testamento, afirmação contestada por outros, que afirmam terem sido encontrados em uma das cavernas de Qumran fragmentos de papiro com trechos do Evangelho de Marcos, anterior ao ano 68 A.D., como está relatado no capítulo Rolos do Mar Morto. Baseando-se no tipo de escrita, Roberts afirma que os poucos versos do papiro 52 foram escritos na primeira metade do segundo século. Embora nem todos os eruditos estejam de acordo com esta data eminentes paleógrafos, como Frederico Kenyon. W. Schbart, Harold Bell, Adolfo Deissmann e outros têm concordado com o julgamento de Roberts. Peritos papirólogos europeus o têm datado no tempo do Imperador Trajano (98-117).

Embora diminuto em seu tamanho, é de grande valor para o texto bíblico, por derrotar a opinião de alguns críticos que afirmam ter sido o Evangelho de João escrito por volta do ano 160.

COLEÇÃO DE BODMER

M. Martim Bodmer, por ser bibliófilo e humanista, comprou para a biblioteca que tinha estabelecido num subúrbio de Genebra, uma coleção de Papiros, que hoje recebe o Seu nome. Os mais notáveis desta coleção são os seguintes:

P 66.
É um códice do Evangelho de João, publicado em 1956 por Vitor Martim, professor na Universidade de Genebra. De acordo com o editor, este manuscrito é um dos mais velhos do Novo Testamento, datando do ano 200 mais ou menos. Contém os primeiros catorze capítulos do Evangelho de João com uma lacuna apenas (vinte e um versículos) e consideráveis porções dos últimos sete capítulos.
Este manuscrito apresenta algumas singularidades, tais como João 13:5, onde afirma que Jesus não tomou uma simples bacia (niptera), mas uma bacia com pés (podoniptera); outra está no capítulo 7 verso 52 em que a palavra profeta está precedida de artigo, o que evidentemente altera o sentido do texto.

Dada a sua antigüidade, bem como a do papiro 75, é digno de nota, não aparecer neles a Perícope da Mulher Adúltera do capítulo oito, um a onze. Todos os estudantes de Crítica Textual devem ter em mente que o relato da mulher adúltera apenas se encontra em um dos primitivos manuscritos unciais, isto é, no Códice D ou de Beza. Os Novos Testamentos Gregos não a trazem, bem como a “Revised Standard Version” e a “New English Bible”. Também não se encontra na maioria dos primitivos manuscritos latinos. Em alguns manuscritos ela aparece depois de Lucas 21:38.

Esta circunstância e a alegada diferença de estilo com os demais escritos joaninos, têm levado os eruditos a afirmarem que esta perícope não se encontrava no autógrafo de João. Embora estes mesmos eruditos confessem que a narrativa parece ser autêntica e que está em plena harmonia com a vida e os ensinos de Jesus. O Comentário Bíblico Adventista defende a sua autenticidade.

P 72.
Este manuscrito contém as mais antigas cópias da Epístola de Judas e as I e II Epístolas de Pedro. O editor Michel Testuz as datou ao terceiro século.

P 74.
Antigamente era um códice volumoso de 264 páginas, mas que hoje se encontra num pobre estado de preservação, contendo muitas lacunas. Nele encontramos porções de Atos, Tiago, I e II Pedro, III João e Judas. É datado do sétimo século.

P 75.
Manuscrito contendo os livros de Lucas e João. Tinha primitivamente 144 páginas e desta sobrevivem 102. Dois de seus editores dataram esta cópia entre os anos 175 e 225. Seria assim a mais primitiva cópia de Lucas e uma das primeiras de João.

Neste manuscrito o nome de João é escrito com apenas um ni. No relato da Parábola do Homem Rico e Lázaro aparece o nome do homem rico – onomati Neues; a tradição naquele tempo era chamar o rico de nineues.

Seu texto apresenta profunda identidade com o texto do códice Vaticano. Metzger salientou muito bem esta identidade da seguinte maneira:

“Embora o papiro não apóie inteiramente um tipo ou família de texto do Novo Testamento, concorda mais freqüentemente com o Códice Vaticano (B) do que qualquer outro manuscrito.”

Há curiosas variantes em seu texto, por exemplo, em S. João 10:7 em vez da palavra “porta” aparece a palavra “pastor”, ficando assim a passagem: “Eu sou o pastor das ovelhas” em lugar de “Eu sou a porta das ovelhas”.

Papiros de Elefantina

Merece ainda rápido destaque os chamados papiros de Elefantina, assim chamados por terem sido encontrados na ilha de Elefantina. O egiptólogo Sayce pretendia publicar uma coleção destes papiros, mas pelo falecimento (1896) não pôde realizar seu sonho. Sua filha desconhecendo o valor dos papiros guardou-os num caixote, legando-os por ocasião da morte ao Brooklyn Museu de Nova York. Examinando-os detidamente os estudiosos assinalaram o seu valor. A maior parte destes são escritos em aramaico.

Dr. S. Schwantes escrevendo sobre os Papiros e a Bíblia destacou:

“Grenfell e Hunt, seguindo as pegadas do veterano arqueólogo inglês Flinders Petrie, iniciaram investigações em montes de lixo, em aldeias e cidades do antigo Egito, descobrindo fragmentos de papiros com trechos bíblicos.

O papiro, fabricado com as fibras de uma planta do mesmo nome, é facilmente perecível, mas não no clima extremamente seco que prevalece no Egito na orla do deserto. Graças a esse clima, milhares de fragmentos de papiros foram preservados em excelente estado, constituindo hoje verdadeiras preciosidades.”

Depois de chamar-nos a atenção para a descoberta de papiros contendo famosas obras clássicas dos gregos o autor prossegue:

“Papiros contendo porções da Bíblia não começaram a aparecer a não ser no final do século passado, à medida que se faziam explorações arqueológicas sistemáticas em várias regiões do Egito. A luz que projetaram sobre a data dos diferentes livros do Novo Testamento foi de valor inestimável. Um fragmento do Evangelho de João foi datado da primeira metade do segundo século da nossa era. Se a data está correta, então o original do Evangelho de São João remonta pelo menos ao final do primeiro século, contrariamente à opinião de muitos críticos que, baseando-se em critérios puramente literários, atribuem o Evangelho ao segundo século. Se os críticos tivessem razão, então o evangelho em questão não poderia ter sido escrito pelo apóstolo João, como a Igreja sempre creu…

Os originais dos diferentes livros do Novo Testamento foram escritos em cidades da Palestina, da Ásia Menor ou da Europa onde o clima não favorecia a preservação desses originais, especialmente se escritos em papiros por ser mais barato que o pergaminho.

O fato de não possuirmos os manuscritos originais dos evangelhos ou epístolas, não milita contra a autenticidade do Novo Testamento que possuímos. Se não possuímos os originais, possuímos ao menos cópias de cópias dos originais. E tantas são as cópias preservadas, e tantas as traduções do Novo Testamento anterior ao quinto século de nossa era, que eruditos, por um processo de comparação cuidadosa, podem recuperar o texto original com uma precisão extraordinária. Pode-se afirmar sem hesitação que nenhum outro livro da antigüidade é tão bem atestado como o Novo Testamento. . .

As descobertas de papiros bíblicos no Egito não só foram úteis para avaliar a data aproximada dos originais, mas também para esclarecer a língua em que o Novo Testamento foi escrito. Ao passo que outrora se imaginava que o Novo Testamento fora escrito num grego eclesiástico, diferente do clássico, hoje se sabe que foi escrito no grego do povo comum. Os eruditos o chamam grego koinê, que quer dizer o grego popular falado por quase todo o mundo na parte oriental do I Império Romano. Era a língua em que os apóstolos pregavam o evangelho e que se reflete nos papiros contemporâneos, bem como nas páginas do Novo Testamento.

Os estudiosos haviam constatado que havia no Novo Testamento palavras e expressões que não podiam ser elucidadas consultando um dicionário de grego clássico. Lightfoot e outros haviam sugerido que se conhecessem as cartas escritas pelo povo comum nos dias dos apóstolos, muitas destas palavras e expressões “sui generis” apareceriam como termos de uso corrente. Esta predição se confirmou quando A. Deissmann e outros especialistas puseram em evidência os muitos paralelos entre a linguagem dos papiros achados no Egito. Verificou-se então que o Espírito Santo não cunhou uma língua especial para comunicar a revelação divina, mas inspirou os autores bíblicos a empregar a língua mais popular para alcançar o coração de todos os homens e não somente dos intelectuais!

A título de ilustração citemos dois exemplos de como a linguagem dos papiros esclarece a linguagem do Novo Testamento. O termo arabon empregado em II Coríntios 1:22; 5:5 e Efésios 1:14 e traduzido como “penhor” aparece freqüentemente nos papiros. Assim uma mulher que está vendendo uma vaca recebe mil dracmas como “sinal” na espera de receber o restante mais tarde. Na linguagem do apóstolo Paulo, o dom presente do Espírito Santo é um “sinal” de bênçãos ainda maiores prometidas para o porvir.

A palavra parousia que no grego clássico significava “presença” aparece no Novo Testamento com uma conotação diferente. O contexto exige freqüentemente que a palavra seja traduzida por “aparecimento” ou “visita. Ora, os papiros mostram que parousia era a palavra popular para indicar a visita de um grande personagem. Somos, pois, autorizados a interpretar várias passagens do Novo Testamento onde parousia é empregada como uma referência a “visita real” de Jesus Cristo, visita esta que a igreja aguarda com tanta ansiedade.

Cristo disse certa vez, que se os homens se calassem em render seu testemunho, as próprias pedras clamariam. Não somente as pedras, mas também os papiros egípcios erguem hoje suas vozes para render testemunho à veracidade das Santas Escrituras.” (Partes principais de um artigo escrito na Revista Adventista, junho de 1979, pp. 7-9).

CONCLUSÕES

I) Todos estes papiros têm um profundo significado para uma melhor compreensão do texto. Note-se, porém, que é a sua antigüidade e não o material ou lugar de origem, o que lhes confere o valor.

II) A preservação e o conhecimento destes papiros nós devemos a dois incansáveis eruditos – Dr. Hugo Ibscher e Frederico Kenyon.

Geralmente os papiros são encontrados em muito mau estado; uns descobertos no meio de ruínas, outros nos sarcófagos, juntos com as múmias; aparecem às vezes, rasgados ou quebrados, apagados pela umidade, e quase inutilizados. Para desenrolar e esticar estas folhas seculares, sem as danificar, o papirólogo deve ser também químico e manipulador perito, que saiba proceder a este trabalho com muita habilidade e paciência.

No campo de papirologia bíblica deve ser mencionado o Dr. Hugo Ibscher de Berlim, a maior autoridade na conservação de papiros, que com a habilidade de mestre tratou das folhas separando-as e arrumando-as adequadamente.

Senhor Frederico Kenyon, o “primus inter pares” entre os estudiosos dos manuscritos sagrados, publicou entre 1933 e 1937, com introduções e comentários todos os papiros bíblicos conhecidos, incluindo os do Velho Testamento.

III) Muitos dos estudiosos da papirologia esperam sofregamente, que num futuro próximo novas e importantíssimas descobertas se processem neste maravilhoso campo da arqueologia bíblica.

Eis as palavras do Dr. B. P. Bittencourt, no livro O Novo Testamento, página 98:

“Esta é a ciência que avança em função de novas descobertas, e quem poderia prever que nestes últimos trinta e poucos anos, com a descoberta dos papiros Chester Beatty e Bodmer, e os estudos feitos no texto tipo cesareense e outras contribuições menores, a crítica textual avançasse tanto de modo a tornar as obras de Gregory, Nestle ou Langrange, e até do próprio Kenyon e Vaganay, não só velhas, mas obviamente a carecer de revisão e grande atualização? E quem dirá que amanhã, como aconteceu nesta geração, não haverá surpresas, no campo dos MSS, do Novo Testamento, com descobertas ainda maiores que as dos rolos do Mar Morto para o Antigo Testamento?”

IV) Cada manuscrito ao ser encontrado, quer seja ele uncial, minúsculo ou papiro é criticamente estudado por pessoas versadas no Novo Testamento, cujo objetivo principal é preparar um texto grego que tenha a maior semelhança possível com o original verdadeiro, mas perdido.

V) O estudo dos manuscritos desperta em nós a convicção de que não há nenhum motivo para alguém alimentar dúvidas quanto ao texto original da Palavra de Deus.

VI) Este capítulo será concluído com quatro citações:

a) “Deus tem fiéis testemunhas a qual Ele confiou a verdade, é que preservam a Sua palavra. Os manuscritos hebraicos e gregos das Escrituras têm sido preservados através do tempo por um milagre de Deus.” (E. G. White, Carta 32, 1899).

b) “Nenhuma doutrina fundamental da fé cristã repousa num texto em disputa. As constantes referências a erros e divergências textuais não suscitam nenhuma dúvida quanto ao conteúdo, à substância, à mensagem e mesmo à linguagem da Bíblia, pois elas ocorrem num ou noutro texto não significativo no teor geral do Livro (…) O cristão deve tomar a Bíblia em suas mãos e afirmar, sem temor nem hesitação, que ele está segurando a verdadeira Palavra de Deus, transmitida, de geração em geração; através dos séculos sem a perda de um pormenor de importância.” (Palavras do Senhor Frederico Kenyon, diretor do Museu Britânico, encontradas no livro Our Bible and Ancient Manuscripts).

c) “A grande reverência com que tanto os judeus como os primitivos cristãos tinham para com os escritos sagrados, faziam-nos muito escrupulosos em sua conservação. As provas históricas confirmam isto, pois judeus e cristãos tiveram que sofrer a perseguição por causa de seus livros sagrados, e em virtude de sua fé. Sabemos que muitos judeus preferiram morrer a entregar os oráculos divinos às chamas destruidoras.” (A. R. Miles).

d) Variantes Segundo o cálculo de juízes tão competentes como os críticos Westcott e Hort, sete oitavos de todo o Novo Testamento são transmitidos, concordemente, sem variantes, por todas as testemunhas.

Quanto às variantes, somente a milésima parte atinge o sentido e só uma vintena assumem a verdadeira importância. Nenhuma atinge a alguma verdade doutrinária. Auxiliados pela Crítica Textual podemos concluir com os supracitados críticos que o texto genuíno do Novo Testamento é assegurado não só na substância, mas também em quase todos os minuciosos particulares.

Das fontes usadas na elaboração deste capítulo a mais valiosa foi: The Text of The New Testament de Bruce M. Metzger, páginas 36-65.

Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico, Capítulo 26.

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