Baseado nas concepções de Jonathan Edwards
Somos ditos naturalmente incapazes de fazer alguma coisa quando não podemos fazê-la se desejarmos, porque o que é mais comumente chamado de natureza [não] a permite, ou por causa de algum defeito pendente ou obstáculo que é extrínseco à vontade; seja na faculdade do entendimento, constituição do corpo ou objetos externos. A inabilidade moral não consiste em qualquer uma dessas coisas, mas no desejo da inclinação ou na força da inclinação contrária ou no desejo dos suficientes motivos em vista, para induzir e estimular o ato da vontade ou na força dos aparentes motivos em contrário. Ou reunidos, eles podem ser resolvidos em um; e pode ser dito numa palavra, que a inabilidade moral consiste na oposição ou desejo da inclinação.
O homem pode ter o desejo de fazer coisas que ele não pode fazer por causa dos limites impostos pela natureza. Podemos desejar ser o Super-homem, capaz de pular edifícios altos num único salto, ser mais poderosos do que uma locomotiva e mais rápidos do que uma bala veloz. Mas, a não ser que nos tornemos homens de quinze milhões de dólares (aumentado dos seis milhões por causa da inflação), é altamente improvável que iremos realizar tais façanhas prodigiosas. A natureza capacita os pássaros a voarem através dos ares sem a ajuda de dispositivos mecânicos e peixes a viveram sob a água sem seafogarem. Eles são assim constituídos em suas naturezas para serem capazes de fazer essas coisas. Mas nós não temos asas e penas ou guelras e barbatanas. Essas limitações são impostas pela nossa natureza. Elas revelam uma carência ou deficiência das faculdades necessárias ou equipamentos.
A inabilidade moral também lida com uma deficiência, a carência de motivo suficiente ou inclinação. Edwards cita vários exemplos de inabilidade moral: uma mulher honrada que é moralmente incapaz de ser uma prostituta, uma criança amorosa que não tem vontade de matar seu pai, um homem lascivo que não pode controlar a sua luxúria.
Devido à inabilidade moral do homem, a vontade não pode deixar de ser livre. A vontade é sempre livre para agir de acordo com o motivo mais forte ou inclinação no momento. Para Edwards, isso é a essência da liberdade. Ser capaz de escolher o que se deseja é ser livre nesse sentido. Quando digo que a vontade não pode deixar de ser livre, quero dizer que a vontade não pode escolher contra sua inclinação mais forte. Ela não pode escolher o que não deseja escolher. Edwards refere-se ao significado comum de liberdade: "...aquele poder e oportunidade de alguém fazer e conduzir como deseja, ou de acordo com a sua escolha". A palavra nada diz sobre "a causa ou origem desta escolha".
Edwards observa que arminianos e pelagianos têm um significado diferente para o termo liberdade. Ele relaciona alguns aspectos dessa definição:
1.Ela consiste num poder autodeterminante ou uma certa soberania que a vontade tem sobre si mesma, segundo a qual determina suas próprias volições.
2.A indiferença pertence à liberdade prévia ao ato da volição, in equilíbrio.
3.A contingência pertence à liberdade e é essencial a ela. A não ser que a vontade seja livre nesse sentido, ela não é considerada livre de forma alguma.
Edwards então mostra que a noção pelagiana é irracional e conduz a um retrocesso infinito da determinação:
...Se a vontade determina a vontade, então a escolha ordena e determina a escolha: e atos de escolha estão sujeitos à decisão e seguem a conduta de outros atos de escolha. Conseqüentemente, se a vontade determina todos os seus próprios atos livres, então cada ato livre de escolha é determinado por um ato prévio de escolha, escolhendo aquele ato. E se aquele ato prévio da vontade ou escolha for também um ato livre, então, por esses princípios, nesse ato também, a vontade é autodeterminada; isto é, semelhantemente, isso é um ato que a alma escolhevoluntariamente.... O que nos leva diretamente a uma contradição uma vez que supõe um ato de vontade anterior ao primeiro ato em toda a série, dirigindo e determinando o resto; ou um ato livre de vontade anterior ao primeiro ato livre de vontade. Se não, devemos chegar a pelo menos um ato de vontade determinando os atos seguintes, no qual a vontade não é autodeterminada e, assim, não é um ato livre... mas se o primeiro ato na série... não for livre, nenhum deles pode ser livre....
...se o primeiro não é determinado pela vontade e, assim, não é livre, então nenhum deles é verdadeiramente determinado pela vontade....30
Edwards diz que a idéia de uma vontade indiferente é absurda. Emprimeiro lugar, se a vontade age a partir de um ponto de vista de indiferença, não tendo motivo ou inclinação, então como a escolha pode ser moral? Se as escolhas são totalmente arbitrárias e tomadas sem nenhuma razão ou motivo, como elas diferem das ações involuntárias, ou da mera resposta das plantas, animais ou corpos decadentes?
Em segundo lugar, se a vontade é indiferente, como pode haver uma escolha? Se não há motivo ou inclinação, como uma escolha pode ser feita? Ela requer um efeito sem uma causa. Por essa razão, Edwards trabalha a questão de se a volição pode, possivelmente, originar-se sem uma causa, pela atividade da natureza da alma. Para Edwards, "o nada é privado de escolha"31 é um axioma. "A escolha ou preferência não pode estar antes de si mesma, no mesmo exemplo, seja na ordem do tempo ou na natureza", ele diz. "Ela não pode ser a base de si mesma, ou o fruto ou conseqüência de si mesma".
Aqui Edwards aplica a lei da não-contradição à visão pelagiana e arminiana do livre-arbítrio e mostra que ela é absurda. A indiferença só pode suspender as escolhas, não criá-las. Criá-las seria um ato ex nihilo, não apenas sem uma causa material, mas também sem uma causa suficiente ou eficiente.
Edwards, então, trabalha com várias objeções comuns à visão agostiniana, mas não lidaremos com elas aqui. Concluímos resumindo a visão de Edwards sobre o pecado original. O homem é moralmente incapaz de escolher as coisas de Deus a não ser ou até que Deus mude a disposição da sua alma. A inabilidade moral do homem é devida a uma carência e deficiência críticas, a saber, o motivo ou desejo pelas coisas de Deus. Por si mesmo, o homem nunca irá escolher a Cristo. Ele não tem inclinação para fazer isso em seu estado caído. Uma vez que ele não pode agir contra sua inclinação mais forte, ele nunca irá escolher a Cristo a não ser que Deus, primeiramente, mude a inclinação da sua alma por meio de uma obra imediata e sobrenatural de regeneração. Só Deus pode libertar o pecador da escravidão das suas próprias inclinações más.
Assim como Agostinho, Lutero e Calvino, Edwards argumenta que ohomem é livre porque pode e, de fato, escolhe o que deseja ou é inclinado a escolher. Mas o homem carece do desejo por Cristo e pelas coisas de Deus até que Deus crie em sua alma uma inclinação positiva para essas coisas.
R. C. Sproul
Fonte: http://www.jonathanedwards.com.br/2010/02/jonathan-edwards-nossa-inabilidade.html#comment-form
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