4 de dez. de 2011

A natureza enganosa do pecado

Segundo Jonathan Edwards 1703-1758

Como é possível as pessoas viverem de maneira que desagradam a Deus – e no entanto parecerem completamente insensíveis a isso e seguirem em frente totalmente esquecidas de seus pecados?

Isso se deve a natureza cega e enganosa do pecado. O coração humano é cheio de pecado e corrupção; e a corrupção tem um efeito espiritual de cegueira. O pecado sempre carrega um grau de obscuridade. Quanto mais ele prevalece, mais ele obscurece e ilude a mente.
Ele nos cega para a realidade que está no nosso próprio coração. Assim, o problema não é, em absoluto, a falta da luz da verdade de Deus. A luz brilha suficientemente ao nosso redor, mas a falha está nos nossos olhos; estão obscurecidos e cegos pela incapacidade mortal que resulta do pecado.

O pecado engana facilmente porque controla a vontade humana, e isso altera o julgamento. Quanto a concupiscência prevalece, predispõe a mente para aprová-la. Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom.

A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é correto. Portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o entendimento. Quanto mais a pessoa anda no pecado, provavelmente, mais a sua mente será obscurecida e cega. Assim é que o pecado assume o controle das pessoas.

Portanto, quando elas não estão conscientes do seu pecado, fica extremamente difícil fazê-las enxergar o erro. Afinal de contas, o mesmo desejo maligno que as levou ao pecado, as cegará.

Quanto mais uma pessoa raivosa consente com a malícia ou com a inveja, mais esses pecados cegarão seu entendimento para que ela os aprove. Quanto mais um homem odeia o seu vizinho, mais ele tende a pensar que tem uma boa causa para odiar, e que aquele vizinho é digno de ódio, que merece ser odiado, e que não é seu dever amá-lo. Quanto mais prevalecem os desejos de um homem impuro, mais doce e agradável o pecado lhe parecerá, e mais ele tenderá a pensar que não há mal nisso.

Semelhantemente, quanto mais uma pessoa deseja coisas materiais, provavelmente mais pensa que é desculpável por agir assim. Dirá a si mesma que precisa de certas coisas, e que não é pecado desejá-las. E as concupiscências do coração podem assim ser justificadas. Quanto mais prevalecem, mais cegam a mente e influenciam o julgamento que as aprova. Por isso, a Bíblia denomina os apetites mundanos de as concupiscências do engano (Ef. 4:22)

Até pessoas piedosas podem por um tempo permanecer cegas e iludidas pela concupiscência, e assim viverem de uma maneira que desagrada a Deus. A concupiscência também incita a mente carnal a inventar desculpas para as práticas do pecado. A natureza humana é muito sutil quanto se trata de racionalizar o pecado.

Alguns são tão devotados às suas maldades que quando a consciência os importuna, torturam a mente a fim de encontrar argumentos que façam com que ela se cale e que os convençam de que procederam licitamente quando pecaram.

O amor a si mesmo também predispõe as pessoas a desculparem o seu pecado. Elas não gostam de se condenar. São naturalmente preconceituosas em seu próprio favor.

Procuram bons nomes para denominar suas tendências pecaminosas. Elas as transformam em virtudes ou no mínimo em tendências inocentes. Rotulam a avareza de prudência, ou então chamam a ganância de negócio inteligente. Quanto se alegram com as calamidades do próximo, fingem que é porque esperam que isso trará algum bem a pessoa. Se bebem muito, é porque sua constituição física o exige. Se caluniam, ou falam do vizinho, afirmam ser zelosos quanto ao pecado.

Se entram numa discussão, dizem ter uma consciência obstinada e consideram sua discórdia mesquinha uma questão de princípios. E assim, encontram bons nomes para todas as formas de mal.

As pessoas têm a tendência de adaptar os seus princípios à sua prática, e não o contrário. Além de permitir que seu comportamento se conforme com a consciência, despenderão uma energia tremenda tentando fazer com que sua consciência se adapte ao seu comportamento.

Como o pecado é tão enganoso, e como temos muito pecado no coração, é difícil julgar nossos próprios caminhos com justiça. Por causa disso, deveríamos fazer um auto-exame diligente e nos preocupar em descobrir se há em nós algum caminho mau. “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb. 3:12-13).

As pessoas vêem mais facilmente os erros dos outros do que os seus. Quando vêem os outros errarem, imediatamente os condenam até mesmo enquanto se desculpam pelos mesmos pecados! (cf. Rm 2:1) Todos vemos um argueiro nos olhos dos outros e não a trave nos nossos olhos. “ Todo caminho do homem é reto aos próprios olhos” (Pv. 21:2) “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17:9)

Não podemos confiar em nosso coração nesta questão. Em vez disso, devemos nos vigiar, interrogar nosso coração cuidadosamente, e pedir a Deus que nos sonde completamente. “O que confia no seu próprio coração é insensato” (Pv. 28:26).

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