11 de dez. de 2011

O Homem que se Chama Sábio, mas é Louco

(Exposição de Rom. 1-3)

“Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” Rom. 1:22.

O livro de ROMANOS, escrito pelo apóstolo Paulo é a epístola mais teológica, mais profunda, a teologia mais importante da Bíblia, o livro mais destacado entre os escritos sagrados no que concerne à salvação; é a teologia mais profunda, e no entanto, mais evidente e mais esclarecedora.
Vamos começar hoje em Rom. 1:1: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus.” Nesta introdução ele dá algumas sugestões do que realmente ele quer dizer em toda a epístola. Ele vai falar neste livro sobre o “Evangelho de Deus”.

Paulo diz que deseja visitar a grande cidade de Roma, a fim de pregar esse Evangelho; e faz uma PROPOSIÇÃO GERAL, nos versículos 16-17: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.”

Paulo começou a falar do Evangelho na introdução, e, como ele está ansioso para apresentar este emocionante tema, ele apresenta logo a sua proposição. Tudo quanto ele dirá no livro de Romanos está sintetizado nestas poucas palavras que lemos. Ele escreve sobre Justificação pela Fé até o capítulo 8 [1-8]. Do capítulo 9 em diante [9-11], ele apresenta a questão do Judeu em relação à Justificação pela Fé. E do capítulo 12 até o final [12-16] ele culmina com os Frutos, os resultados excelentes, a maneira prática de viver a Justificação pela Fé. De modo que o livro é inteiramente Justificação pela Fé, que nos traz a Segurança da Salvação.

E Paulo começa a dizer: Eu “não me envergonho do evangelho”. Ele usa uma expressão chamada litotes, que é uma figura de linguagem segundo a qual nós, quando queremos enfatizar uma verdade positiva, usamos o negativo no início da frase. Então ele está realmente querendo dizer o seguinte: “Eu me glorio, eu me entusiasmo, eu me encho de emoção quando eu penso neste evangelho. E eu estou tão emocionado com ele que eu gostaria de pregá-lo desde o imperador na grande metrópole de Roma, até os seus mais desprezados escravos.”

Por que é que ele se entusiasma tanto por este evangelho? Por que é que ele é capaz de dizer que não se envergonha do evangelho? “Porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”.

E então ele esclarece logo no início que ele não é o autor dessa doutrina: porque “a justiça de Deus se revela no evangelho, …como está escrito”. Na realidade, esta doutrina não é do apóstolo Paulo, embora muitos tenham dito: “Eu rejeito essa epístola, porque esta doutrina é do Paulo legalista que só via Lei, Justiça e Juízo; isto é uma invenção do apóstolo Paulo que era fariseu.”

Alguns estão dizendo: “Fale-nos do Evangelho de Jesus Cristo, não do Evangelho de Paulo!” No entanto, isto é uma doutrina de toda a Bíblia. E ele já disse isso nestas simples palavras: “Está escrito”. E no verso 2, ele já prevenia este argumento contrário, dizendo que essa doutrina pertence às “Sagradas Escrituras”.

Desde o Gênesis até ao Apocalipse, esta doutrina da Justificação está esparsa em todos os lugares: no Santuário, nos Salmos, nos Profetas, no livro de Isaías – o profeta evangélico; e é claramente um ensino de Jesus Cristo que apresentou muitas parábolas sobre a Justificação pela Fé.

Mas qual é a base de Paulo? Onde ele achou o seu fundamento? Diz ele: “Está escrito: O justo viverá por fé.” Quando ele usa estas palavras, ele se baseia em Hab. 2:4: “O justo viverá pela fé.” E, nestas poucas palavras, ele fundamenta toda esta teologia filosófica, a epístola mais teológica, mais sistemática da Bíblia, com a qual todos os verdadeiros cristãos se encantam, se abeberam nesta fonte cristalina de verdades santificadoras.

Mas observe o método do apóstolo Paulo. Eu sempre me entusiasmo com a sua técnica. Paulo está fazendo uma proposição. Quando ele escreve as suas epístolas, e especialmente esta aos Romanos, parece que estamos ouvindo uma sinfonia, uma grande composição musical, em que há uma introdução, há os vários temas que são lançados de início em sugestão; depois o compositor toma um tema e analisa, toma outro tema e executa, e depois no final, ele reúne todos os temas e os apresenta em um grande clímax. É assim que o apóstolo Paulo faz em suas epístolas. E ele apresentou esta proposição da salvação pela fé.

I – A LOUCURA DOS GENTIOS

Mas, SALVAÇÃO POR QUÊ? Por que há necessidade de uma salvação? Por que é que nós precisamos ser salvos pela justiça de Deus? A razão por que muitos ainda não se converteram a este Evangelho é porque não entenderam por que deveriam ser salvos. Então Paulo responde a isto no versículo 18, apresentando o primeiro tema, depois de sua grande proposição. O seu tema é este: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão (injustiça) dos homens.” A palavra “perversão” (Edição Atualizada) é uma interpretação, mas a tradução exata do original grego é “injustiça”.

Por que é que há necessidade de salvação? Porque há um grande problema. O problema éA IRA DE DEUS. O que é que ele quer dizer com isso? Há uma necessidade de salvação por causa da ira de Deus. E Paulo é bastante claro sobre isso. Mas eu sei que este assunto não é aceito por muitas pessoas, às vezes dentro da própria igreja. Porque os homens não estão querendo ouvir falar de um Deus que tem ira, que se manifesta em ira e em retribuição. Eles estão muito conscientes e muito satisfeitos em falar apenas sobre um Deus de amor.

Se você pergunta para qualquer pessoa: “Você crê em Deus?” “Sim, eu creio em Deus.” “Você crê no amor de Deus?” “Ah, sim, o amor de Deus é maravilhoso; se não fosse isso, o que seria de nós?” “Você crê que Deus é um Deus de ira e de justiça?” “Ah, aí não! Eu não aceito isso. Eu só aceito que Deus é um Deus de amor.” Em outras palavras, os ímpios estão construindo um deus de acordo com sua própria filosofia, de acordo com os seus próprios sentimentos, e não de acordo com as Escrituras. O homem moderno não quer saber de qualquer ensino que trate da ira de Deus.

Mas como é que você pode transmitir o evangelho se não começar por Deus, e pela maneira como Deus reage diante do pecado do homem? Como você pode ganhar genuinamente uma pessoa para a verdade e para a salvação se você não disser por que realmente nós precisamos ser salvos e do que é que precisamos ser redimidos? Nós precisamos ser salvos da ira de Deus. E este é o argumento do apóstolo Paulo: se nós queremos ser salvos, teremos de nos defrontar com o maior obstáculo à nossa salvação, que é a ira de Deus.

Mas o que significa a ira de Deus? Naturalmente, este é um aspecto do caráter de Deus que até os anjos desconheciam! Esta ira não se confunde com a paixão descontrolada do homem que resulta em vingança. Não é uma cólera arbitrária, uma emoção sem controle. Esta ira de Deus significa o Seu ódio, a Sua indignação e a Sua justa retribuição ao pecado.

De fato, Deus ama o pecador, mas Ele odeia o pecado. Isto significa a ira de Deus. É a justa manifestação divina contra o pecado, a iniqüidade e a transgressão. Mas esta verdade está sendo esquecida e, como resultado, vemos muitas igrejas repletas de pessoas conformadas com a sua vida de pecado, sem nenhum temor de Deus diante dos seus olhos, embalando-se em uma falsa segurança! Mas note que o mesmo Jesus que disse: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” (João 3:16), exaltando o amor de Deus, também disse: “O que se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3:36).

Mas por que a ira de Deus foi despertada? Por causa de duas coisas – diz o apóstolo Paulo: a IMPIEDADE e a INJUSTIÇA. O que significa IMPIEDADE? Significa falta de piedade, e piedade significa devoção, relacionamento com Deus. Impiedade significa falta de Deus na vida. O idioma inglês conserva o significado do grego: impiedade é “ungodliness”, cuja raiz é “god” (deus); ungodliness significa sem Deus ou contra Deus, ou falta de reconhecimento ou reverência. Impiedade é praticada por aquele que não tem ligação com Deus, é falta de relacionamento com seu Criador.

Este é justamente o significado do termo grego. É falta de temor reverente para com Deus, de reconhecê-lO como Deus. Este é o motivo, a causa da ira de Deus. E o que significa a palavra INJUSTIÇA? É tudo que é contrário à justiça, ao que é reto e direito. Todos os pecados que cometemos são injustiça. O egoísmo, o orgulho, a cobiça e suas manifestações são sintetizados na palavra injustiça. Impiedade é a transgressão dos 4 primeiros mandamentos; Injustiça é a transgressão dos outros 6 mandamentos da Lei de Deus. Paulo, em uma grande síntese, resume nestas duas palavras a transgressão de todos os Dez Mandamentos.

Mas eu gostaria de considerar a ordem destas duas palavras: “impiedade e injustiça”. Por que não injustiça e depois impiedade? Hoje os homens estão invertendo esta ordem. Eles estão dizendo lá fora que o problema do mundo é a injustiça. Simplesmente se nós resolvermos o problema da injustiça, o mundo estará salvo. Portanto, nós precisamos criar boas condições entre os homens. Então muitos estão dizendo: “Nós precisamos de mais educação” – isso diz o ministro da Educação. Um senador disse o seguinte: “Nós precisamos de mais leis, uma nova Constituição.” Outros dizem: “Nossa maior necessidade é de polícia com mais autoridade e eficiência para garantir a segurança.”

Mas realmente qual é a nossa maior necessidade? É ajustar os problemas com os homens? É um problema em nossa Sociedade? Alguns têm resumido isso dizendo que a maior necessidade do homem é achar “um vizinho gracioso”. Não! A nossa maior necessidade é ajustar o problema com Deus. O maior problema, aquilo que atrai a ira de Deus, é o homem viver sem Deus no coração, é o homem estar completamente indiferente em relação ao seu Criador.

Isso é impiedade; primeiro vem a impiedade. Injustiça é simplesmente o resultado. Pecados da injustiça entre os homens são apenas a conseqüência de não termos um estreito relacionamento com Deus; é simplesmente o seu desconhecimento de Deus. Então ele peca, ele pratica toda a sorte de injustiça. Por quê? Porque lhe falta um sincero relacionamento com Deus.

Você não pode amar o seu próximo enquanto você não ama a Deus. Certa vez o reitor da Universidade de Glasgow, na Escócia foi convidado para um grande congresso evangélico. E ele estava lá diante de muitos teólogos. E aquele homem começou a falar, e disse o seguinte: “Vocês são homens de Teologia, vocês são homens conhecedores desta profundidade teológica. Eu não, eu sou um homem simples, eu não entendo nada de teologia, e nem estou interessado nela. Eu simplesmente quero entender de vocês como é que eu posso amar o meu semelhante. Se vocês me disserem isso, então eu ficarei muito satisfeito.” Este homem negava a teologia, e achava que o problema realmente estava entre os homens. Mas o nosso problema está com Deus, porque a ira de Deus é despertada e “se revela contra toda impiedade e injustiça dos homens”.

A ira de Deus foi revelada lá no jardim do Éden, quando nossos pais foram expulsos logo que transgrediram a Sua lei. Foi revelada em Sodoma e Gomorra. Foi revelada no Dilúvio. Foi revelada nas 10 pragas contra o Egito através do poder de Deus manifesto contra Faraó. Esta ira de Deus foi revelada lá no deserto entre o povo de Israel. Foi revelada nos cativeiros do povo escolhido. Foi revelada na Igreja Cristã primitiva com Ananias e Safira. Esta ira será revelada nas 7 últimas pragas do Apocalipse. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens”.

A ira de Deus foi despertada por causa da impiedade. Este é o primeiro grande tema de Paulo. Agora, ele passa a ampliar essa verdade. Por que há impiedade entre os homens? Versos 19-20: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.”

Isto é impiedade. Paulo está descrevendo e amplificando isso. É assim que ele sempre faz: ele tem um teorema, ele apresenta a sua tese e então passa a prová-la.

E Paulo continua apresentando a impiedade no mundo gentílico: Qual é o grau da sua impiedade? Versículo 21-22: “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos.”

Eles se dizem sábios, mas são loucos, porque o seu coração não reconhece a Deus. Eles se tornaram nulos no seu intelecto, porque o seu coração estava longe de Deus. E a religião verdadeira é a religião do coração. E a maior loucura que podemos praticar é abandonar a Deus em nosso coração.

Por que os homens são indesculpáveis? Porque eles têm o conhecimento de Deus. Porque esse conhecimento já foi expresso na Natureza. As Suas virtudes, os Seus atributos, a Sua própria Divindade – tudo está claro, basta olhar para o alto, como disse o profeta Isaías. Os grandes filósofos do passado tinham essa luz. Não há necessidade de muitas coisas para sabermos que há um Deus no Céu.

Voltaire foi um homem que dedicou a vida inteira para pregar contra a Bíblia e dizer que esta religião da Bíblia seria completamente descartada em 50 anos. Voltaire, no entanto, estava numa noite estrelada olhando para os céus, e ele escreveu estas palavras: “Eu estava contemplando este maravilhoso espetáculo, eu estava embevecido;” e ele continua: “é preciso ser cego para não ver esta majestade, é preciso ser estúpido para não reconhecer o seu Autor, é preciso ser louco para não adorá-lO.” Voltaire era um ateu que estava confirmando estas palavras em si mesmo: “Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos.” “É preciso ser louco para não adorá-lO!”

Aqui está o homem que gosta de ser chamado sábio, que gosta de ser chamado filósofo. E os gregos tinham esta arrogância, e eles originaram isto, e estas coisas hoje se vêem em nosso mundo, esta arrogância: “Nós temos o conhecimento da Ciência!” E os homens gostam de usar a palavra filosofia: “Eu sou um filósofo”! “Nós somos filósofos, amigos da sabedoria.”

Os grandes títulos que muitos cobiçam são estes: a “Filosofia da Educação”, “Filosofia da História”, “Filosofia da Medicina” e “Filosofia da Psicologia”, etc. E eles se enchem dessas expressões cheios de orgulho, e confiam nas suas descobertas científicas e excluem a Deus do seu conhecimento. Mas isto realmente é um engano, é uma ilusão, porque o apóstolo Paulo prova que ao invés de sábios, eles são loucos.

A maior loucura deste mundo é ter o conhecimento de Deus e desprezá-lo. Em maio de 1984, um jornalista noticiou o falecimento de Pedro Lava. Ele era um léxico e escritor de muitos livros. Certa vez lhe perguntou um repórter: “Pedro Lava, o que é que o senhor acha que é a coisa mais nobre da vida?” E ele respondeu: “A coisa mais nobre nesta vida é o amor físico.” E este homem, aos 80 anos, que não soube reconhecer a Deus, experimentou o resultado de sua impiedade: Ele tomou uma arma e acionou contra a sua cabeça, abandonando a vida, completamente desencantado com a própria miséria.

Paulo falou até aqui sobre o tema da impiedade.

Mas qual é a conseqüência da impiedade? O apóstolo passa a demonstrar que o resultado da impiedade é injustiça: Verso 24: “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si.”

Por que há tanta imoralidade entre os homens? Por que há tanta prostituição, pedofilia, homossexualismo e adultério? Por causa da impiedade. É por que os homens e mulheres abandonaram a Deus, desprezaram o Seu conhecimento, e Deus os entregou às suas próprias vontades pervertidas, e ficaram culpados, como diz o apóstolo nos Versos 29-31: “cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia.”. Tudo isso é resultado, tudo isso é conseqüência da impiedade. E no verso 32, lemos que tais pecadores são passíveis de morte.

Uma professora da Alemanha Oriental, num tempo de muita intolerância religiosa, lecionava na sua classe para as crianças. De repente, esta professora disse: “Levantem-se todos, ponham-se em pé e digam: “Não há Deus!” “Então todas as crianças repetiram isso, menos uma; uma menina de 8 anos se negou a dizer que não há Deus.

Então, a professora ficou muito brava com ela, e disse: “Você vai para casa e escreva 50 vezes: “Não há Deus”. Ela voltou para casa e escreveu 50 vezes: “Sim há Deus”. E ela trouxe para a escola no outro dia, entregou para a professora, e a professora leu: “Sim há Deus, Sim há Deus” 50 vezes.

E ela, enfurecida, disse: “Você volta para casa e vai escrever 500 vezes “Não há Deus”, porque senão algo vai lhe acontecer!” e esse algo era a morte. No outro dia a menina voltou com o seu pai para falarem com o diretor a fim de que ele soubesse o que é que estava acontecendo.

E, então, o diretor disse: “Vocês não precisam mais se preocupar. Ontem à noite a professora foi vitimada por um acidente de motocicleta. Ela já morreu e tudo está acabado. Volte para a sua sala de aula.” É a ira de Deus que se revela contra toda impiedade e injustiça.

II – A LOUCURA DOS JUDEUS

Até aqui, Paulo falava dos gentios. Mas como estariam os JUDEUS? Os judeus também eram indesculpáveis: Rom. 2:1: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.” Os judeus, leitores da carta de Paulo, apreciaram as suas palavras contra os gentios, mas, penetrando no capítulo 2, eles se aperceberam que também eram culpados, merecedores da ira de Deus, como os gentios.

No verso 17, Paulo se dirige diretamente aos judeus: “Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus… Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa.” (2:17,23-24). Quem é mais culpado: o pecador que conhece a Lei ou aquele que a desconhece? Os judeus se tornaram mais culpados do que os próprios gentios, mesmo com tantos privilégios espirituais!

Mas qual é a finalidade de tudo o que disse o apóstolo? Finalmente, no capítulo 3:9, o apóstolo Paulo chega à grande conclusão: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado.” Os gentios se diziam sábios por suas filosofias, mas se tornaram loucos por desprezarem a Deus, e se envolverem na idolatria e conseqüente imoralidade. Os judeus se diziam sábios por seu conhecimento de Deus e de Suas Leis, mas se tornaram loucos por desonrarem ao mesmo Deus a quem pregavam, e desobedecerem às mesmas Leis que ensinavam.

Portanto, julgando-se sábios, todos eles se tornaram loucos, insensatos, e culpados de pecado, merecendo a ira de Deus, que “se revela contra toda impiedade e injustiça”. Portanto, “todo o mundo”, tanto gentios como judeus, “é culpável diante Deus” (v. 19). Portanto, todos nós somos culpados e condenados à morte, merecendo o castigo do fogo do inferno.

Nesse ponto, alguém poderia perguntar: “Mas não há nenhuma esperança? E se nós fizéssemos a caridade, praticássemos o bem, não estaríamos a salvo da ira de Deus contra o pecado?” Paulo responde desse modo: 3:20: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.”

Por que não podemos apresentar as nossas justiças para nos livrar? Dar esmolas, guardar o Sábado, assistir à Igreja, devolver o Dízimo? Por que a Lei não tem a função de salvar, mas condenar. “Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”, não a salvação. Pela Lei, sabemos que somos culpados, não salvos. Não há possibilidade de salvação, se nós confiarmos em nossas boas obras. Não podemos ser justos diante de Deus por nossas obediências e realizações. Este é o quadro negro, triste e desesperador de nossa situação diante de um Deus santo e justo.

III – A SOLUÇÃO PARA A LOUCURA

Mas então, ONDE ESTÁ A SOLUÇÃO, onde podemos colocar a nossa esperança de salvação? Agora, Paulo começa a responder a esta grande questão. Se todos estão no pecado, condenados à ira de Deus, esperando apenas a morte como conseqüência de sua vida de pecado, como podemos ainda ter esperança?

Lemos a sua resposta nos versos 21-22: “Mas agora … se manifestou a justiça de Deus … mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que crêem.” A grande solução de Deus é a justiça de Jesus Cristo que nos é dada, a fim de nos livrar de nossos pecados. “Mas agora” – observem estas duas palavras, palavras fantásticas.

O Evangelho sempre é apresentado pelo apóstolo Paulo desta maneira: “Mas agora”. Antes estávamos desesperados; “mas agora” temos esperança. Antes, estávamos perdidos, “mas agora” estamos salvos. Antes éramos condenados; “mas agora”, somos justificados. Antes éramos “filhos da ira” (Efé. 2:3), “mas agora” somos filhos do Altíssimo, por causa da justiça de Deus.

O que significa esta justiça de Deus? Esta justiça não é uma justiça adicional. Há uma teoria entre alguns cristãos que diz o seguinte: “O que devo fazer para me salvar?” “Bem, você deve se esforçar muito para praticar o que é reto, para alcançar a perfeição, que está no topo de uma escada altíssima em que você vai subindo, vai subindo ainda mais alto, vai procurando alcançar a santidade cada vez mais, e quando você não pecar mais e alcançar a perfeição, você está completamente salvo e pronto para entrar no Céu.”

E você pergunta: “Mas e se eu morrer no meio do caminho?” “Bom” – nós somos consolados – “aí então Deus completa o que lhe faltou.” Está certo isto? Lembra do hino: “Deus completa o incompleto que existe em mim”? É muito agradável de ouvir e cantar, mas é uma teologia falsa. A justiça de Deus já é completa. Disse Ellen G. White: “Devemos olhar ao homem Cristo Jesus, que é completo na perfeição da justiça e santidade.” (EGW, Nos Lugares Celestiais, p. 166). Portanto, nada pode ser completado da parte de Deus. Sua justiça já é perfeita, em Cristo.

A justiça de Deus, portanto, é a obediência perfeita e completa de Jesus Cristo, é a Sua vida de perfeição, que nos é creditada pela fé para nos salvar da ira no Juízo final. A justiça que salva é a própria perfeição de Cristo. Justiça aqui significa muito mais do que perdão de pecados passados. Significa não só o pleno perdão dos pecados passados, presentes e futuros, mas muito mais do que isso; significa uma justiça positiva que Jesus Cristo conseguiu ao viver uma vida de perfeição aqui nesta Terra; quando temos fé em Jesus, esta perfeição é creditada nos livros do Céu em nosso favor. E isso não é apenas um ato judicial, mas um poder transformador que pela atuação do Espírito Santo penetra em nossa mente e muda o caráter.

Alguém aqui está colocando a sua esperança em seus próprios méritos? Está olhando para as suas realizações? Nossa única esperança de salvação da ira de Deus está em Jesus Cristo e na Sua justiça. Portanto, vamos colocar a nossa fé nAquele que trouxe a Sua justiça, a fim de cobrir os nossos trapos imperfeitos e imundos, a fim de que o nosso pecado seja perdoado e sejamos justificados pela fé. Vamos procurar a justificação e o perdão a cada dia e aprofundar o nosso arrependimento. Vamos olhar a Jesus pela fé e descansar inteiramente na Sua gloriosa obra realizada por nós em Sua justiça salvadora.

Certa vez se encontraram dois amigos numa das ruas principais de sua cidade natal. E um deles perguntou: “Virgílio, quais são as perspectivas?” Ele disse: “Olhando ao nosso redor vemos trevas, sombras e escuridão, mas olhando para o alto vemos luz, muita luz, somente luz.”

De fato, olhando para dentro de nós, vemos pecado, iniqüidade e transgressão. Mas olhando para Jesus, vemos justiça, muita justiça, somente justiça. Esta é a nossa única segurança. Vamos pedir de Deus essa justiça redentora, e então, seremos salvos e poderemos cantar os alegres triunfos do Evangelho, que “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. Não somos mais loucos nem insensatos; agora, você é “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tim. 3:14).

Pr. Roberto Biagini

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