11 de dez. de 2011

Será o Santuário “Purificado”?

Estaria correta a tradução “… e o Santuário será purificado”, em Daniel 8:14? E como aceitar um juízo ”investigativo”, uma vez que essa palavra não está na Bíblia?

1. Juízo investigativo

Quem usa o argumento de só aceitar uma doutrina se determinada palavra constar nas Escrituras, terá problemas também com o ensinamento bíblico sobre o Milênio, pois tal vocábulo não se encontra na Bíblia. Mas a expressão “mil anos”, mencionada em Apocalipse 20:2, 3, 4, 6, 7, não quer dizer a mesma coisa?
Vejamos o que a Bíblia diz sobre o Juízo Investigativo:

1. Jesus Cristo exemplificou esse julgamento com a parábola das Bodas (Mateus 22). Antes de começar a festa, foi feita uma investigação para ver se os convidados estavam devidamente trajados (verso 11). Isso indica que, antes que Cristo venha para buscar Sua noiva (a igreja) para as bodas, faz-se necessária a investigação dos convidados.

2. O profeta Daniel fala que, antes de ser dado aos salvos o reino eterno (Dn 7:22, 27), será feita “justiça aos santos do Altíssimo” (Dn 7:22). Isso indica que antes da segunda vinda de Cristo haverá um julgamento ou investigação de todos os que professaram ou professam servir a Deus. Para isso, o Ancião de dias (Deus Pai) instaura um tribunal, quando livros são abertos (Dn 7:10). Esse juízo mostra quem está pronto para participar das bodas entre Cristo e a igreja.

2. “Purificação” do santuário, em Daniel 8:14

O verbo hebraico que aparece em Daniel 8:14 é nitsdaq, forma Niphal (passiva) do verbo tsadaq, que tem os significados de “justificar”, “vindicar”. Os tradutores da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) se depararam com tsadaq, nesse verso, e o traduziram com o termo grego katharízo (limpar, purificar), e não com dikaioo (ser justo, justificar), como seria o esperado. Por quê?

Ou (1) porque traduziram o livro de Daniel de um manuscrito que tinha tahar (limpar, ser limpo), e não tsadaq (justificar, vindicar), ou, mais provavelmente, (2) por verem em tsadaq um aspecto cerimonial, relacionado com a purificação do santuário, no Dia da Expiação. Paulo (sendo ele o autor de Hebreus) seguiu a Septuaginta, ao falar da purificação do santuário celestial, em Hebreus 9:22, 23. Nesses dois versos, ele usa o mesmo verbo katharízo (limpar, purificar), empregado na Septuaginta para traduzir o verbo tsadaq.

Aqueles que dizem que tsadaqnão pode ser traduzido por “purificar” advogam que Antíoco Epifânio I V (175-c.163 a.C.) é o “chifre pequeno” (Dn 8:9). Mas Antíoco não cumpre todas as condições para ser o “chifre pequeno”:

1. A profecia era para o “tempo do fim” (Dn 8:17) ou para “dias ainda mui distantes” (Daniel 8:26), e não para o tempo de Antíoco.

2. Deveria ser um poder mundial, ou “muito forte” (Dn 8:9), como os impérios representados pelo carneiro (Medo-Pérsia) e o bode (Grécia) – não foi esse o caso de Antíoco, pois ele governou apenas na Síria. Ao tentar se intrometer nos negócios da Palestina, acabou sendo expulso pelos macabeus.

3. Deveria destruir o santuário israelita ( Dn 8:11). Apesar de ter profanado o santuário, até com sacrifício de porcos, Antíoco não o destruiu.

4. Deveria “lançar a verdade por terra” ( Dn 8:12). Antíoco tentou helenizar os judeus, proibiu a circuncisão, forçou alguns judeus a comer carne de porco, ofereceu sacrifícios de porcos no templo, mas não conseguiu ”lançar a verdade por terra” de modo permanente, pois foi expulso da Palestina.

5. Devia “prosperar” naquilo que empreendesse (Dn 8:12). Mas não se pode dizer que Antíoco “prosperou” (Dn 8:12), nem que se “tornou muito forte” (Dn 8:9). Ele, depois de um fugaz triunfo no sul (Egito), foi totalmente derrotado nesse país, quando o embaixador romano C. Popílio Laenas meramente lhe informou que o Senado Romano queria que ele se retirasse. O inflexível romano traçou, com sua bengala, um círculo em torno de Antíoco e exigiu deste uma decisão antes que ele saísse de dentro do círculo!

Antíoco morreu sob circunstâncias obscuras e tristes no leste (Mesopotâmia). Até mesmo na “terra gloriosa” (Palestina), onde, a princípio, ele parecia destinar-se ao sucesso, todas as suas ambições ruíram por terra enquanto ele ainda vivia ( M. Maxwell, The Message of Daniel, p. 159).

Somente Roma, em suas duas fases, cumpre todos os detalhes proféticos para ser o “chifre pequeno”: Roma pagã destruiu o santuário judaico, no ano 70 d.C, e Roma papal usurpou de Cristo (que ministra no santuário), a função de perdoador dos pecados, dando essa prerrogativa aos seus sacerdotes.

Exortamos aos que não aceitam o Juízo Investigativo e a Purificação do Santuário a fazer um reexame de seus argumentos, para ver como tais doutrinas se baseiam solidamente na Bíblia.

Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e editor na Casa Publicadora Brasileira.
Fonte: Blog Sétimo Dia

Nenhum comentário: